domingo, fevereiro 22, 2004

Mickey

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Mickey era o gato siamês que vivia em casa dos meus pais. Gato rezingão, indolente, sempre senhor do seu nariz, dos seus bigodes, sempre senhor de si. Não lhe agradava um colo e fazia-o saber alto e bom som, num rosnar típico de cão. Não pedia, exigia alimento, aceitava mimos a contra-gosto.

Comilão quanto baste, tinha especial predilecção por aves. Costumava atacar as armadilhas que o vizinho armava no quintal e roubava os pássaros. Que o esforço de caçar era demasiado grande para ele, ele gostava de comida fácil, se viesse depenado ainda era bem melhor. O vizinho ficava chateado, não pelo pássaro comido, mas pela armadilha que o gato insistia em levar consigo.

Durante nove meses do ano, engordava a olhos vistos, armazenava alimento, qual camelo, para gastar imparavelmente nos três meses que se seguiam, perdido que andava fora de casa, perseguindo todas as gatas da vizinhança. Voltava a casa, com intervalos de semanas, sujo, esquelético, pêlo mal tratado, às vezes magoado por algum dono que não apreciava a sua corte declarada e descarada. O esforço era certamente bem sucedido e recompensado, a avaliar pela quantidade de gatos siameses que começaram a proliferar pelas redondezas.

Mickey saiu mais uma vez para ir às gatas, só que este ano teve pouca sorte ao atravessar a estrada e foi colhido por um carro. Não sobreviveu.

Mickey, vamos ter saudades tuas, vais sempre fazer parte da nossa memória. Daqui a anos ainda nos vamos rir com as tuas tropelias, com o teu típico humor, com a tua pachorrenta presença, com a tua gulodice por asinhas de frango e biscoitos crocantes.

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