quarta-feira, dezembro 17, 2003

Diário

Nunca considerei este blog como um diário, provavelmente em parte porque não quis ser cobrada de razões de alegrias ou tristezas por aqueles que me conhecem. A ideia inicial era ser um blog anónimo e nessa circunstância poderia verter para o papel, desculpem, deformação de uso, verter para o teclado impressões mais coladas à realidade.

Quando optei por partilhar o que escrevo com pessoas que conheço, o blog teria que ser menos um diário, menos um contar de situações e muito mais um conjunto de reflexões, mas claro que não consigo descolar o que escrevo das situações que vivo ou já vivi.

Hoje num dos blogs por onde passei encontrei um texto de desalento, e enquanto colocava um comentário veio-me à lembrança um texto que escrevi para alguém que conheci e que intentou o suicídio. Nunca cheguei a enviar, mas eu própria tenho relido o texto ás vezes quando me sinto mais em baixo e tenho que adquirir nova perspectiva.

“Quando hoje soube o que tinha tentado fazer não consegui conter as lágrimas.

Imagino o desespero, o turbilhão de problemas que se lhe apresentavam para pensar em terminar tudo.

Sinto a angústia que lhe devia ir na alma, um vazio de não saber o que realmente é esperado, o que deve fazer, se responde às expectativas…

Mas tudo é circunstancial, o que ontem era importante ou intolerável, hoje com outra luz, e também com outra disposição, tem que parecer suportável. Ainda que o ontem e hoje estejam a mais do que um dia de distância.

Feche os olhos e sinta o calor do sol a bater em cheio no rosto! Alheie-se de tudo e sinta unicamente o calor do sol, sinta a luz que lhe trespassa as pálpebras, e respire fundo!

Sinta a proximidade do chão, o calor que emana da parede branca, sinta o cheiro da terra regada ao amanhecer, sinta o sussurro da brisa, o canto dos pássaros, a agua que corre nos regatos, sinta, sinta, sinta com os sentidos do corpo e não com os sentidos da alma.

Encha-se de sensações físicas, sinta prazer pelo seu corpo, prazer por ser.
Não seja avestruz que enterra a cabeça demasiado fundo e por demasiado tempo.

Se existem problemas, eles vão sendo resolvidos ou perdendo a importância.

Não se pode deixar dominar pelas situações, pelo desânimo!

Pense que este tempo foi uma noite de sono agitado, com pesadelos e percepções estranhas da realidade, mas que o sol já desponta sobre os montes. Sinta o arrepio da madrugada, quando a temperatura desce ao mínimo para depois aquecer.”

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